domingo, 1 de dezembro de 2024

Reparação dos Massacres da Guerra Colonial?

 

Reparação dos Massacres da Guerra Colonial

Para quando a reparação devida às vitimas civis dos inúmeros Massacres perpetrados pelo Exército Português na Guerra Colonial: Pidgiti, Kassange, Inhaminga, Wiriamu e muitos mais que continuam escondidos?


quinta-feira, 27 de março de 2008


OS MASSACRES DE TETE
16 de Dezembro de1972













O texto que se segue sobre os massacres de Chawola, Wiriyamu e Juwau, confirmam as afirmações feitas pelo padre Hastings, com base no testemunho dos 3 padres de Burgos expulsos depois dos massacres e é ainda confirmado por varias pessoas (soldados e civis) que estiveram em Tete nesta altura. 














I. O MASSACRE DE CHAWOLA ( Sab. 16/12/72 )
Mais ou menos pelas pelas 14 horas, 2 reactores bombardearam as povoações de Wiriyamu e Juwau a uns 25 Km de Tete (cidade), no regulado de Gandali; enquanto 5 helicópteros desembarcavam tropas armadas , que cercavam as ditas povoações e metralhavam o povo , que fugia do bombardeamento.
Eram duas grandes povoações, mas não sabemos o número dos sobreviventes. O certo é que tais povoações foram totalmente aniquiladas e arrasadas. A população de Chawola, povoação esta muito próxima das de Wiriyamu e Juwau. vendo o fogo dos bombardeamentos, das metreIhadoras e das palhotas a arder, juntou-se aterrorizada no pátio de Chawola. Pouco depois viu-se cercada pelas tropas, que entravam a disparar. O povo tentou fugir, mas os soldados reuniram de novo e imediatamente saquearam as palhotas (roubando dinheiro, roupa, rádios, etc.).
A seguir as tropas obrigam o povo a bater as palmas, para se despedir da vida, visto que já ia morrer, ordem a que o povo obedeceu. Enquanto batia as palmas, os soldados abriram fogo sobre a população reunida, fuzilando homens, mulheres e crianças. Juntaram os corpos, cobriram-nos de capim e deitaram-lhes fogo.
Enquanto os soldados incendiavam as palhotas, alguns, que tinham sido apenas feridos, e conseguiram sair da pilha já a arder. Destes, uns morreram no mato e outros encontram-se hospitalizados.
No dia seguinte ao destes massacres, somente no pátio de Chawola, contaram-se 53 cadáveres, dos quais foram identificadas os seguintes:



1. Chawola
2. Mwataika (mulher de Chawola)
3. Xavier (jovem, irmão de Chawola)
4. Mixoni
5. Firina (mulher de Mixoni)
6. Luciano (filho de Mixoni,adulto)
7. Rita (filha de Mixoni,7a.)
8. Irisoni
9. Soza (mulher de Irisoni}
10. Liria. (mulher de Irisoni)
11. Posi (filha de Irisoni, 1 mês)
12. Chinai (filho de Irisoni,8a)
13. Tsapwe (filho de Irisoni, 9a)
14. Lusia (filha de Irisoni, 9a.)
15. Chipiri (filho de Irisoni, 8a)
16. Ramadi (filho de Irisoni)
17. Luisa (muler de Ramadi)
18. Manuel (filho de Ramadi,1 ano)
19. Akimo
20. Joana (mulher de Akimo)
21. Birifi
22. M'balamyama (mulher de Birifi)
23. Kapeno (filho de Birifi, 7anos)
24. Mataka (filho de Birifi, 9a)
25. Batista .
26. Asseria (mulher de Batista}
27. Makau (filha de batista, 8a)
28. Sabudu (filho de Batista,3 anos)
29. Medeka
30. Firipa (mulher de Medeka)
31. Adamu (filho de Medeka 10 anos)
32. Mechenga
33. Chifanikiso (filho de Mechenga)
34. Kunesa
35. Julio (filho de Kunesa, 15)
36. Mako
37. Pinto (11anos)
38. Mayesa (9 anos)
18. Manuel (filho de Ramadi, 1ano)
39. Kundani
19. Akimo
40. Djipi (9anos)
20. Joana (mulher de Akimo)
41. Nsembera
21. Birifi
42. Pita






1º - Todos estes factos foram-nos narrados pelos tais sobreviventes, que conseguiram sair da pilha e se encontram hospitaliados em Tete e tambem por outros que lograram escapar a tempo.

-A identificação dos cadaveres fo levada a efeito por pessoas que, de proposito se deslocaram as povoações massacradas

- Os que conseguiram sair da pilha foram:

1. Antonio (filho de Mixoni, 15 anos)
2. Domingos (filho de Mixoni, 4 anos)
3. Serina (filha de Irisoni, 13 anos)
4. Tembo (filho de Batista, 5 anos)
5. Manuel (filho de Mwantulujali, 15 anos)
6. Podista (mulher de Mchenga)

Se fizermos um inquerito apoiado pelas autoridades, poderiamos saber se o numero de mortos de todas as aldeias massacradas naquela area ultrapassa os quinhentos como o povo assegura.
Se não houve massacre, se so foi destruida uma base de terroristas, se crianças de 1 a 10 anos não são "terroristas" ; se velhos e velhas e mulheres com crianças ao colo não são "terroristas", não teremos então receio de abrir um inquerito público, para verificar a veracidade destes massacres.
Se apenas foi destruido um acampamento de "turras", e se um acampamento de "turras" não é o mesmo que uma povoação tradicional onde vivem homens, mulheres e filhos, onde tem a sua mapira, 0 seu milho, 0 seu vestuario, etc. que vamos então ao local destas povoações, que existiam com os seus habitantes e haveres, e encontraremos a realidade!- que não foi um acampamento de "terroristas" que foi destruido, mas um grupo de povoações com as suas populações indefesas.



Tete, 19 de Dezembro de 1972

P.S. -Na altura em que acabavamos de redigir este relatorio, chegou-nos a noticia de que os massacres ainda continuavam em várias outras povoações como na de Luis, Corneta e outras, avançando para Gama, no régulado do Rego.



II - O MASSACRE DE WIRIYAMU E JUWAU (sábado 16-12-72 )


Estivemos em busca de elementos de juizo.

Apesar das dificuldades que surgiram (impostas umas, circunstanciais outras), de elaborarmos uma lista completa dos nomes das vitimas do massacre das povoaçoes de Wiriyamu e Juwau , as fontes dos pormenores que conseguimos dão-nos 0 direito de seguirmos mantendo a afirmação de ali ter havido mais quatro centenas de vitimas (cerca de 500).
Da nossa diligencia pudemos apurar 0 seguinte:
Na tarde do dia 16 de Dezembro do ano findo, como já ficou dito na primeira parte deste nosso relatório, as povoações de Wiriyamu e Juwau foram vitimas de uma incursao militar, da parte das forças da orderm.
Depois do bombardeamento, os soldados-comandos, previamente heli-transportados que jaá haviam posto cerco às ditas povoações invadiram-nas com fúria, aumentando a terror dos seus habitantes já em panico pelos bombardeios.
Uma vez dentro das povoações, esse grupo entregou-se imedatamente ao saque das palhotas, seguindo-se depois o massacre do povo, que se revestiu de excesso de crueldade.
Um grupo de soldados juntou uma parte do povo num pátio, para 0 fuzilamento. O povo assim reunido foi obrigado a agrupar-se sentado em dois grupos: 0 grupo dos homens, num lado, e o das mulheres, noutro, a fim de poderem todos ver melhor como iam caindo os fuzilados.
Um soldado chamava por sinal a quem quisesse (quer homem, quer mulher, quer criança),
0 designado punha-se de pé, destacava-se do conjunto, 0 soldado disparava sobre ele e a vitima caia fulminada. Este foi 0 processo que fez mais vitimas. Muitas crianças morreram ao colo das suas maes, fuzilada juntamente com elas. Entre muitos outros. os soldados assim mataram:



1 Dzedzereke (homem adulto)
2 Mafita (mulher de Dzedzereka)
3 Kufuniwa (filho de " )
4. Birista (mulher adulta)
5. Luwo (rapaz ,2 anos)
6. Lekerani (homem adulto)
7. Sinoria (mulher de Lekerani)
8. Chamdindi (filho de Lekerani, 5 an.)
9. Nguiniya (mulher adulta)
lO.Firipi (homem adulto)
11.Bziyese (mulher de Firipi)
l2.Feta (filha de Firipi)
l3.Meza (filho de Firipi)
l4.Thangweradzulo (filho de Firipi)
l5.Zerista (mulher adulta)
l6.Bwezani (homem adulto)
l7.Aqueria (mulher adulta)
l8.Khapitoni (homem adulto)
19. Bunitu (mu lher de Khap.)
20.Mamaria (mulher de Khap.)
2l.Tinta (filho de Khap.)
22.Chawene (filh. de Khap, 2an.)
23.Chinai (filho de Khap.,4an.)
24.Kuoniwa (fil. Khap.,12an.)
25. Liyanola (mu lhet' adu1 ta)
26.Djemuse (hamem adulto)
27.Julina (mulher adulta)
28.Djipi (rapaz, 9anos)
29.Alista (mulher adulta)
30.Mtsimpho (homem adulto)
3l. Nsemberembe (rapaz, 9an.)
32.Vira (mulher adulta)
33.Thomasi (homem adulto)
34.Artencia (rapariga,13an.)
35.Duwalinya (mulher adulta)
36. Sad1sta (mulher adulta)
37.Florinda (mulher adulta)
38.Siria (mulher adulta)
39.Saizi (homem adulto)
40.Maviranti (mulher de Saizi)
4l.Domingos(filh Saizi,5 anos\
42.Maloza (mulher de Saizi)
43.Sederia (fil. de Saizi)
44 .Mboi (fil.de Saizi)
45.Gwaninfuwa (homem adulto)
46.Kachingamba (rapaz, 4 anos)
47.Kuxupika (homem adulto)
48.Manyanyi (mulher de Kuxupika)
49 .Mapalata (mulher de Kuxupika)
50.Cirio (filh. Kuxupika,5 anos)
5l.Kutongiwa (homem adulto)
52.Maria (filha de Kutongiwa)
53.Olinda (rapariga, 10 anos)
54.Lainya (mulher adulta)
55.Luwina (mulher adulta)
56.Aluviyana (mulher adulta)
57.Kuitenti (homem adulto)
58.Caetano (rapaz, 5anos)
59.Kuchepa (rapaz,12anos)
60.Bziuzeyani (mulher adulta)
61.Djinja (homem adulto)
62.Alufinati (homem adulto)
63.Zabere (rapariga l4 anos)
64.Aesta (rapariga,16 anos)
65.Rosa (rapariga,5 anos)
66.Zaveria (rapariga,16anos)
67.Alista (rapariga,14 anos)
68.Mbiriyadende (homem adul.)
69.Guideria (mulher adulta)
70.Khembo (homem adulto)
71.Kamusi (rapaz, 2 anos)
T2.Chinteya (rpariga,4 anos)
73.Sunturau (irmao de Kuxupika)
74.Dzivani (rapaz,12 anos)
75.Zeca (rapaz,12 anos)
76.Mgreta (mulher adulta)
77.Dinho (filho de Magreta,2 anos)
78.Hortencia (irma de Magreta)
79.Mario (irmao de Magreta ,10 anos)
80.Chuva (homem adulto)
81.Kirina (mulher de Chuva)
82.Fuguete (homem adulto)
83.Rita (rapariga, 4anos)
84.Eduardo (rapaz, 7anos)
85.Tembo (rapaz, 3anos)

... Outros soldados,que andavam dispersos, obrigavam a gente a meter-se para dentro das palhotas, que depois incendiavam, morrendo a gente queimada dentro delas.
As vezes, antes de pegar fogo as palhotas, lançavam para dentro delas granadas, que explodiam sobre as vitimas. Depois é que deitavam fogo as palhotas. Dessa maneira, entre outros,
foram mortos:



I.Chakupendeka (homem velho)
2.Bwanbuluka (mulher de Chak.)
3.Kulinga (filho de Chak.)
4.Naderia (mulher de Kulinga)
5.Luwa (filha de Ruling, 2an.)
6.Marianela (filh. Kulinga,4 an.)
7.Tembo (filho de Kulinga, 8meses)
8.Keresiya (mulher adulta)
9.Joaozinho (fil. Kere.,2 an.)
10.Malota(fil. Ker. , 2 meses)
11.Kamchembere (rapariga,1 mes)
l2. Masalambani (rapaz, 6 anos)
13.Chinai (rapaz, 5 anos)
14.Domingos (rapaz, 5 anos)
15 .Mboi (rapariga, 10 meses)
l6.Chiposi (rapariga, 3 anos)
l7.Augusto (rapaz,1 ano)
8 .Farau (rapaz, 2 meses)
19.Antonio (rapaz,6 anos)
20.Anguina (mulher adulta)
21.Jantar (homem adulto)
22.Luisa (rapariga,4 anos)
23.Matias (rapaz,2 anos)
24.Nkhende (rapaz,1 ano)
25.Xanu (rapaz,7 anos)
26.Djoni (homem adulto)
27.Chaweno (rapaz,4 anos)
28. Lodiya (mulher adulta)
29.Mario (rapaz,5 anos)
30.Fostina (mulher adu1ta)
3l. Rosa (rapariga,4 anos)
32. Maria (rapariga, 2 anos)
33. Boy (rapaz,3 anos)

…Outros soldados divertiam-se a matar crianças, agarrando-as pelas pernas, arremessando-as contra o solo ou contra as árrvores. Entre várias crianças, assim morreram:

1. Domingas (rapariga,1 mês)
6. Makonde (rapaz,2 anos)
2. Xanu (rapaz,2 anos)
7. Mako (rapaz,1 ano)
3. Kulewa (rapaz,3anos)
8. Luisa (rapariga, 4 anos)
4. Chipiri (rapaz, 2 anos)
9. Mario (rapaz,4 anos)
5. Chuma(rapariga,4 anos)
10 Raul (rapaz,4 anos)




“"PHANI WENSE !” - ''MATAI-OS A TODOS"

Uma voz autoritaria fazia-se ouvir cam frequencia: "Pham. ,wense!" "Matai-os a todos". "Que não fique nenhum!". Era a voz do agente da D.G.S., Chico Kachavi.
Diz uma testemunha que um oficial militar tinha sugerido a via da clemencia, no sentido de conduzir aquela pobre gente para um aldeamento. Mas a voz sinistra do agente Chico fez-se ouvir ainda com mais furia: "Sao ordens do nosso chefe" -dizia –“ Matar a todos. Os que se poupam são os que nos têm denunciado".
Duas crian~as daquelas povoa~oes, encontradas casua1mente depois da consumação do massacre, foram friamente queimadas dentro de uma choça pelo mesmo agente da D.G.S. sob 0 pretexto de uma possível denuncia.
Naquela tarde. em Wiriyamu e Juwau só se ouviam os berros dos soldados, os disparos das armas e os gemidos das vitimas feridas de morte. –O povo de Wiriyamu e Juwau viveu momentos de terrível angustia!
Estas cenas duraram ate ao por-do-sol. Nessa altura a soladesca estava ja fatigada de tanta sevícia. Algumas vitimas lograram escapar da morte, fugindo. Elas deram-nos também, como testemunhas oculares muitos dos promenores aqui expostos que, por ' isso, asseguramos ser autênticos.
Demais a Comissao da Delegação de Saúde de Tete, que se deslocou ao local de massacre cerea de vinte dias depois (muito tarde, por conseguinte!), para averiguação, não desmente nosso re1atorio.
Tete, 6 de Janeiro de 1973
(excertos retirados de de um relatório policopiado que circulava clandestinamento em Moçambique em 1973)
#####
Mystery Massacre
Time, Monday, Jul. 30, 1973

Not since the My Lai atrocities came to light in 1969 had a tiny village caused such an uproar. Father Adrian Hastings, a British Catholic priest, alleged that Portuguese government troops had gone on a murderous rampage in the Portuguese Mozambique village of Wiriyamu last Dec. 16. The priest, quoting reports from Spanish missionary priests, claimed that Portuguese soldiers killed some 400 villagers suspected of sympathizing with Frelimo, the Mozambique Liberation Front.
Then began the denials. Dr. Marcello Caetano, the Portuguese Prime Minister, who was on an official visit to London, said that his government's preliminary inquiry showed a massacre of 400 villagers "could not have taken place." A Catholic bishop in Mozambique who in published reports claimed that he had seen the dead bodies later stubbornly declined either to confirm or deny that there had been a massacre. In Lisbon, officials insisted that Wiriyamu did not even exist. Indeed, Father Hastings two weeks ago placed it in western central Mozambique, but next day corrected himself, saying it was in the eastern Tete province. Reporters have been searching for it ever since, and for anyone who claims to have seen the massacre. TIME Correspondent Peter Hawthorne joined a trek last week and afterward sent this report:
The town of Tete bristles with troops, military roadblocks and armored vehicles. People are being moved out of isolated villages and relocated in protected settlements called aldeamentos, where troops and home-guard units keep Frelimo infiltrators at bay.
A 30-man army escort took us to a place called Wiliamo, about eight miles from Tete. The guide was a black army private who said he knew of the village.
He pronounced it "Wiriamu"—many Africans pronounce "l" as "r"—but wrote it "Wiliamo." It was the only place of that name that he knew in the region, he said. Of course there are villages with vaguely similar names all over the areas variously mentioned by Father Hastings, and presumably any of them could be the massacre site.
The village, perhaps ten to fifteen huts, had clearly been abandoned in a hurry. But there was no obvious sign of a firefight—no bullet marks in the tree stumps or huts. It would require nothing less than a team of forensic experts to track down any evidence of a massacre.
No Angels. "My men aren't angels or they wouldn't be good soldiers," said Major José Carvalho, who led the army escort. "But a massacre of 400? During my two years service here I've never heard of such an incident, and if I did it would be the reason for a large-scale military inquiry."
Two priests of the Spanish Burgos Fathers who earlier supported allegations of the massacre have been detained by Portuguese authorities in Lourengo Marques on unspecified charges "relating to the security of the state." Their fellow priests at the Mission of São Pedro, near Tete, will say nothing. Some Portuguese here believe it is quite possible that a massacre did occur. The secretary of the Bishop of Tete, Father Manuel Mouro, told me:
"In a climate of war anything is possible —but between the possible and the real, there may be a big difference."